O bom da vida é sair por aí...Descobrir o mundo, descobrir as pessoas e as coisas...Sentir, olhar, experimentar... viver o que é bom e saber diferenciar...ampliar os horizontes sem ter medo de ousar!!!!

Por Camila Marinho

19 de setembro de 2007

Ossos do ofício!

Nessa vida de repórter uma coisa é certa: a gente vive sendo surpreendida por matérias que não "combinam" em nada com nossas roupas ou sapatos. Ou por situações que a gente nunca espera viver! Claro que no quesito roupa e sapato isso se aplica muito mais ÀS repórteres do que AOS repórteres!!!

ROUPA E SAPATO: Quando eu saio de casa para ir trabalhar, dificilmente sei qual pauta me espera!!!! Portanto, pode ser desde uma matéria de polícia, até uma matéria de política, esporte ou cidade!!!! "N" assuntos que nos exigem estar preparados para tudo.

Normalmente, eu tenho uma bolsa na TV (guardada no armário) com uma bota de chuva, uma outra botinha para situações emergenciais, além de uma capa de chuva!!!! Mas só isso não basta. Pelo menos para quem enfrenta o dia-a-dia das matérias!!!

E quem trabalha em televisão deve estar bem vestido. Por isso, ter um "Plano B" para situações emergenciais é muito importante.

Por exemplo: quando uso um Scarpin, costumo levar de uma casa uma sandalinha ou sapatinho baixo na bolsa. Assim, se tiver uma matéria no Pelourinho não vou sofrer nem um pouco caminhando pelo chão de pedras!!!!

Várias vezes já fui pêga desprevenida: ou me esqueci do "Plano B" ou minha intuição falhou ao imaginar que "aquele" seria um dia calmo!!!! Aí, ou foram calos no pé ou coisa pior!!!!

Certa vez, em Maceió, eu estava de terninho e sandália de salto alto quando, no meio de uma matéria, fui deslocada para um desabamento de casa. Tive que descer o morro e meter o pé na lama sem medo do que pudesse estar ali. Resultado: perdi minha sandália (a tira arrebentou por causa da lama grudenta) e ainda fiquei com o pé todo nojento de sujo!!!! Sem contar a calça, que virou um monte de barro!!!!

Também em Alagoas vivi uma situação desconfortável. Fui deslocada para uma matéria de chuva em Feliz Deserto, no interior do Estado. Chegando lá, a cidade estava praticamente debaixo d´água!!! As pessoas estavam sendo retiradas de casa por tratores. Foi então que eu e o cinegrafista, Paulo Bezerra, decidimos subir num desses tratores para acompanhar a remoção das famílias. Para chegar até o trator enfrentei uma leve correnteza e água até o meio da canela. Depois, lá em cima, tudo corria bem até que o motor parou. Estávamos ilhados...era água para tudo quanto é lado e nada de ninguém aparecer!!!! O jeito foi descer do trator e ver aonde a água dava. Bateu acima da cintura (na altura do meio peito). Não tivemos escolha! O jeito foi entrar na água!!!!
Pior do que enfrentar a correnteza era pensar que ali corria de tudo: água de chuva, de esgoto, de rio... uma "maravilha" só!!!
O episódio me rendeu uma gripe fortíssima, mas graças a Deus nenhuma doença (tomei anti-tetânico)!!!!!

Hoje(19), mais uma vez falhei ao não ter o "Plano B" em mãos.
Fui fazer uma matéria sobre o aumento no número de homicídios em Salvador. Um dos lugares previstos para a matéria era um local conhecido como ponto de desova de cadáveres (no meio do mato)!!!
E lá estava eu, toda arrumadinha: sandália de salto alto a pisar sobre folhas e um fofo chão de terras (o salto "afundava" a todo instante!)
Pior foi quando cheguei próximo ao local onde, poucas horas antes, dois corpos haviam sido encontrados. Meu salto agarrou no chão e o pé saiu do calçado. Acabei pisando no fofo chão de terra onde, provavelmente, os corpos poderiam ter "passado". Logo arranquei uma folha do caderno, esfreguei, esfreguei e ainda senti nojo!!!! Depois, já longe dali, enfiei meu pé debaixo da primeira torneira que encontrei!!! E ainda tive que aguentar os colegas dizendo que eu estava fedendo a cadáver (brincadeira, é claro)!!!

Todo dia é uma situação diferente que a gente enfrenta!!! E acontece o contrário também, quando a gente vai trabalhar mais à vontade e se depara com um matéria ou entrevistado mais "fino"!

Uma vez, num plantão de domingo, eu estava escalada para cobrir a caminhada do dia da Consciência Negra. O traje não poderia ser outro, a não ser calça jeans e tênis (que eu já não gosto muito)!!!! Eu estava escalada só para cobrir isso, mas no fim do dia me mandaram fazer uma entrevista com a ministra Dilma Roussef!!! Imagine só, de tênis!!! Fiquei pouco à vontade diante dela, mas de forma indireta acabei dizendo:
- "Estávamos no meio da caminhada e fomos deslocados para cá, blá, blá.."
Claro que ela nem ligou, mas eu não fiquei à vontade!!!

Hoje em dia, pelo menos nesses casos (de estar com uma roupa mais básica), não saio de casa sem uma camisa e sapato mais elegantes!!!

Além do traje, situações inusitadas são mais do que comuns!!!
Uma vez, em Maceió, fui fazer uma reportagem sobre a incrível Feira do Passarinho, onde comerciantes vendem seus produtos no trilho do trem!!! Basta o trem apitar, para que eles comecem a retirar as mercadorias e correr!!!! Tudo em fração de segundos!!! E eu quis gravar uma passagem (aquele o momento em que o repórter aparece) neste exato momento, da correria pelo trilho!!! Eu estava de costas para o trem e não via onde ele estava! O cinegrafista é quem me orientava. Ele dizia:
- Fique calma e grave!
E quem disse que eu ficava calma???? Meu medo era o trem passar por cima de mim (imagine só!!!)! Mas acabei conseguindo gravar.

Outra vez tive que reconhecer um defunto! O caso já era bizarro: um "morto-vivo-morto" que tinha se mexido no caixão durante o velório. Depois de constatado que ele realmente estava morto, marcaram o enterro. Só que ninguém, nem a família, sabia para qual cemitério o corpo tinha sido levado. Imaginavam que estava num determinado cemitério de Salvador. E lá fui eu atrás do "morto-vivo-morto". Chegando no cemitério, os coveiros me disseram que o corpo com o nome do tal rapaz não estava lá... Mas me informaram que havia um corpo não identificado no salão do velório. Corri para lá para me certificar se poderia ser o "morto-vivo-morto", já que eu tinha visto a foto do rapaz. Quando cheguei no salão, havia dois caixões: um aberto e outro fechado!!! De longe, vi que um dos corpos não poderia ser o do "morto-vivo-morto", pois se tratava de um idoso. Cheguei bem perto do outro caixão, que estava fechado.... Lá havia um papel e, quando olhei, era o nome do rapaz...
Reconhecimento certeiro!!!!

Algumas situações são de medo, como acompanhar operações policiais em bairros violentos, onde o tráfico de drogas reina! Há duas semanas fui acompanhar uma operação à noite e quando me dei conta a polícia já estava fora do carro atirando!!! Meu coração foi a mil, é claro! Mas nessas horas eu me agarro a Deus e penso positivo, que nada vai nos acontecer!!!

OSSOS DO OFÍCIO!!!
Todo dia é uma adrenalina diferente, e acho que isso é que me faz gostar tanto dessa vida de repórter!!!

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